terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Artigo - O uso de diagramas, organogramas e fluxogramas na arquitetura

Autor: Rafael Rodrigues de Freitas Miranda  

Orientadora: Maria Albertina Jorge Carvalho

1. Resumo

O objetivo deste artigo é demonstrar a relação entre o uso de diagramas com o processo de projeto de arquitetura e urbanismo. Diagramas são representações gráficas de uma idéia ou conceito e podem ser aplicados para expressar qualquer forma de conhecimento. Organogramas são representações gráficas compostas por diagramas e na arquitetura são usados como um processo auxiliar no momento da concepção e organização do programa de necessidades. A partir da metade do século XIX, com o surgimento do pensamento funcionalista, os arquitetos passam a dar mais importância ao programa de necessidades. Diagramas e organogramas ganham força no processo projetual e conceitual de arquitetura. O raciocínio organizacional é muito usado em programas mais complexos como hospitais. Como exemplo de sua importância, foi criado um estudo de caso em cima de um projeto do arquiteto Joaquim Guedes, que usou esse tipo de raciocínio organizacional inúmeras vezes em seus projetos, chegando a criar seu próprio método.
Palavras chaves: Arquitetura; diagrama; organograma; Joaquim Guedes. 


2. Abstract

The purpose of this article is to demonstrate the relationship between the use of diagrams with the process of architectural and urban design. Diagrams are graphical representations of an idea or concept and can be applied to express any form of knowledge. Organization charts are graphical representations consisting of diagrams and they are used in architecture as an aid process at the moment of conception and organization of the needs program. From the mid-nineteenth century, due to the rise of functionalist thought, architects begin to give more importance to the needs program. Diagrams and organization charts are gaining strength in architectural design and architecture’s conceptual process. The organizational reasoning is often used in more complex programs such as hospitals. As an example of its importance, a case study was created upon a design elaborated by the architect Joaquim Guedes, who used this type of organizational thinking over and over again on his projects, creating his own design method.
Keywords: Architecture; diagram; organogram; Joaquim Guedes.

3. Introdução

O diagrama possibilita, em qualquer processo de concepção ou produção de informações, representar graficamente qualquer idéia ou conceito. Esse tipo de raciocínio, conhecido como diagramático ou organizacional, pode ser aplicado em qualquer área do conhecimento e sempre foi usado na historia da arte e arquitetura. Além dos diagramas, organogramas e fluxogramas também podem ser aplicados no momento da concepção do projeto arquitetônico e urbanístico, principalmente os com programa de necessidades mais complexo. Assim é possível criar uma hierarquia dos espaços, circulações e acessos, uma maneira de simplificar o processo projetual.  
É antiga a relação entre arquitetura e o uso de diagramas, como por exemplo, o homem vitruviano, representação criada por Leonardo da Vinci baseada na obra de Vitrúvio. Por isso os diagramas selecionados neste trabalho estão relacionados a partir de um período (a partir da metade do século XIX) onde a arquitetura passa a ter fortes tendências funcionalistas, um momento onde os arquitetos se desprenderam de conceitos do passado e passam a dar uma maior atenção ao programa de necessidades do edifício e a racionalização dos processos.

4. Metodologia

Para realização deste trabalho, foram desenvolvidos levantamentos por meio virtual e físico, a artigos, teses e dissertações relacionadas aos temas gestão de projetos, projeto de arquitetura, teoria da arquitetura, semiótica, historia da cidade e urbanismo. Foram apresentados os conceitos gerais de diagrama (baseados na obra de Charles Sanders Peirce), organograma e fluxograma, exemplos emblemáticos na arquitetura, aplicação no cotidiano de projeto e um estudo de caso. Este estudo de caso demonstra a relação pratica entre o raciocínio organizacional e o programa de necessidades e foi desenvolvido em cima de um projeto de Joaquim Guedes, onde foi aplicada uma proposta do que seria o método do varal, baseada na tese de doutorado Habitação para idosos, de Maria Luisa Trindade Bestetti.

5. Conceito de Diagrama

De modo geral, diagramas são representações gráficas de uma idéia ou conceito e podem ser aplicados para expressar qualquer forma de conhecimento. De acordo com Charles Sanders Peirce, um dos principais estudiosos da semiótica, um diagrama pode ser definido como “uma associação entre elementos expressa por meio de relações em um ambiente visual” ¹, ou como uma “imagem visual, seja ela composta por linhas, como uma figura geométrica, ou uma seqüência de signos, como uma fórmula algébrica, ou de natureza mista, como um grafo”. ²
Peirce classificava um diagrama de três maneiras: como sinônimo ou ícone, como um hipo-ícone ou como um processo de raciocínio (raciocínio diagramático).
Sua definição para um ícone era “aquele que exibe alguma similaridade ou analogia com seu objeto, em contraste com os índices, que apenas forçam a atenção sobre o objeto, sem descrevê-lo, e com os símbolos, que se referem ao objeto através de associações habituais de idéias”.³ Um ícone puro é apenas uma possibilidade lógica e não algo existente. Primeiramente Peirce parece diferenciar o conceito de diagrama do conceito de ícone puro, mas ao longo de sua obra é possível notar que esses conceitos se sobrepõem.
Sobre os hipo-icones, considerava “signos icônicos, ícones instanciados, participando de relações sínicas existentes, devido a algum tipo de semelhança que possuem com seus objetos. Neste contexto, diagramas podem ser definidos como hipo-ícones cuja semelhança com seu objeto baseia-se, antes de tudo, em uma semelhança estrutural”. 4
Já o raciocínio diagramático (um pensamento descrito de forma visual, baseado na elaboração de diagramas) era para Peirce o único tipo realmente fértil de raciocínio. Também considerava o pensamento diagramático como icônico ou esquemático e poderia ser usado em diversos processos, não se restringindo apenas ao campo matemático e da lógica.


¹ FARIAS, Priscila Lena. O conceito de diagrama na semiótica de Charles S. Pierce, 2010. Revista Triades, pg. 01.
² Ibidem, pg. 03.
³ Ibidem, pg. 02.
4 Ibidem, pg. 05. 

5.1. Conceito de organograma


Um organograma ou estrutura organizacional é uma representação gráfica composta por diagramas e é usado para representar a hierarquia de cada cargo e a distribuição de cada atividade dentro de uma empresa. Uma das primeiras pessoas a utilizar um organograma foi Daniel C. McCallum, um administrador de ferrovias que viveu no século XIX. Sua intenção ao desenvolver esse método era mostrar como estavam dispostas as unidades funcionais de sua empresa, a hierarquia e as relações de comunicação. 5

5.2. Conceito de fluxograma

                                                   
Um fluxograma é um diagrama que surgiu com a finalidade de representar processos ou fluxos de materiais e operações em uma empresa. “O fluxograma é uma poderosa ferramenta de padronização e muitas vezes é feito através de gráficos que ilustram de forma descomplicada a transição de informações entre os elementos que o compõem. Podemos entendê-lo como a documentação dos passos necessários para a execução de um processo qualquer.” 6
O fluxograma deve ser simples e objetivo, deve-se usar utilizar poucos símbolos, como setas para indicar o fluxo das operações. Um fluxograma pode ser representado junto com o organograma, onde um processo completa o outro. 


5 MORAES, Giovanni. Elementos do sistema de gestão de SMQRS. Editora GVC, 2010, pg. 111.
MORAES, Giovanni. Elementos do sistema de gestão de SMQRS. Editora GVC, 2010, pg. 172.

6. Exemplos de diagramas e organogramas emblemáticos na arquitetura e urbanismo

Alguns dos diagramas mais famosos relacionados à arquitetura e urbanismo são os da cidade jardim, conceito criado por Ebenezer Howard (1850 – 1928). As cidades industrializadas do século XIX passam a apresentar péssimas condições de vida, devido à insalubridade e a massiva migração da população do campo, que encontrava na cidade maiores oportunidades de trabalho. Buscando melhores condições de vida para essa população, Howard propõe um equilíbrio entre cidade e campo em seu livro Garden-cities of To-morrow, publicado em 1902.
“Howard propõe um novo tipo de organização física econômica e social como alternativa a cidade industrial vitoriana, adequando uma visão de vida comunitária do século XIX às necessidades colocadas pela era industrial. Nesse sentido as cidades jardim têm como princípios básicos: a descentralização urbana, o limite no tamanho das cidades adequado ao equilíbrio na organização agrícola industrial, a definição de uma cinta verde para limitar a expansão da cidade e servir de área de produção agrícola e lazer e a propriedade cooperativa do solo.” 7
A figura numero 2 demonstra um organograma radial que distribui as funções dentro da cidade jardim. O organograma não representa a forma final do projeto, mas sim sua distribuição hierárquica de dentro para fora. O parque ficaria na parte central da cidade e estaria cercado por edifícios residenciais, jardins, bulevares, avenidas e uma linha ferroviária. A cidade estaria cercada por inúmeras áreas verdes.
A figura número 3 demonstra um esquema mais detalhado, com outros usos. Na parte central em volta do parque, a sede da prefeitura, um museu, um teatro, uma sala para concertos, uma biblioteca, e um hospital. Ao longo das avenidas, escolas e diversas fabricas.
A figura 4 demonstra que uma cidade jardim não deveria ficar isolada e sim fazer parte de um conjunto de cidades interligadas.

7 FELDMAN, Sarah. Planejamento e zoneamento: São Paulo, 1947-1972. Editora USP, São Paulo, 2005, pg. 124.



 

Figura 2 – Diagrama radial apresentando o esquema da cidade jardim
Fonte: site Urbanidades - http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=12&fullsize=1


 

Figura 3 - Diagrama nº 3 - Seção da Cidade-Jardim
Fonte: site Urbanidades -  http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=14&fullsize=1


 

Figura 4 - Diagrama demonstrando a distância entre cada distrito - Fonte: site Urbanidades  http://urbanidades.arq.br/imagens/2008/EbenezerHowardeaCidadeJardim_E359/eh_sistema_cidades_01.png


A partir da segunda revolução industrial, durante a segunda metade do século XIX, surgem novas tecnologias e materiais aplicados a construção, como o ferro, o aço, o concreto armado e a produção de vidro em larga escala. Além disso, surgem novas necessidades arquitetônicas, como a construção de moradias para operários e edifícios mais altos e industrialização de elementos construtivos.
“Nas duas décadas entre 1830 e 1850, nasce a urbanística moderna. A convivência dos homens na cidade industrial coloca novos problemas de organização: os antigos instrumentos de intervenção revelam-se inadequados e são elaborados novos, adaptados as condições modificadas.” 8
Logo os arquitetos se viram obrigados a repensar a maneira de projetar edifícios, o que aos poucos levou ao abandono do academicismo (processo de aprendizagem arquitetônico proposto pela École de Beaux-Arts de Paris, adotado em várias partes do mundo e aplicado por mais de um século e meio) e a abolição do uso da ornamentação, que além de encarecer a construção, representava uma perda de produtividade.

BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. Editora Perspectiva, 2001, São Paulo, pg. 71.

A ornamentação estava diretamente ligada a um historicismo e academicismo que já não faziam mais sentido no momento. Os arquitetos que seguiam essa forma acadêmica de projetar pouco levavam em conta o programa de necessidades, partiam de formas pré-definidas, independente do uso e do lote onde o edifício seria implantado.
Aos poucos vai tomando forma a corrente funcionalista dentro da arquitetura, que além de reduzir inúmeros elementos desnecessários do projeto, destacava a importância do programa de necessidades, de acordo com a função do edifício.


Figura 5 – Tabela comparando o raciocínio acadêmico e o funcionalista na arquitetura
Fonte: MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília, Editora UnB, 2000, pg. 26.


Neste panorama surge a figura do arquiteto americano Louis Sullivan, afirmando que a “forma segue a função”, projetando inúmeros edifícios para a cidade de Chicago, apesar de ainda fazer uso da ornamentação. Adolf Loos foi outro arquiteto importante, atuando a partir do final do século XIX e combatendo diretamente a ornamentação e os estilos históricos, chegando a criar um manifesto intitulado “Ornamento é crime”. O pensamento racional e a ruptura com a cultura clássica alcançam o seu auge com o surgimento do movimento modernista e suas vanguardas no começo do século XX, com destaque para o neoplasticismo, que surgiu na Holanda em 1917. A estética do movimento desenvolvida por artistas como Piet Mondrian e Theo van Doesburg era tão elementar, que remetia a formas puras que lembravam diagramas (ver figura 6).
“Os integrantes desse movimento buscavam uma purificação dos meios plásticos, adotando as cores primárias (a representação da cor nela mesma), formas neutras, como o retângulo. Por sua condição de equilíbrio estável e a linha reta, acreditavam não evocar sentimentos ou idéias individuais, esses seriam então meios plásticos universais. A utilização destes destacaria as relações entre as formas, criando, racionalmente formas e cores abstratas. Assim, chegariam à plástica exata das relações puras e ao essencial de qualquer emoção plástica estética.” 9


 

Figura 6 – capa da revista De Stijl por Theo van Doesburg e arte criada por Mondrian. Fonte: blog Gabinete de curiosidades -    http://1.bp.blogspot.com/ugTAbL8HfrM/UvNUtHXCueI/AAAAAAAAUL0/SOc6NJEtigk/s1600/mondrian+02.jpg

9 FRACCAROLI, Caetano. Arte, reflexão e ensino. FAUUSP/FAPESP, 2000, pg. 10. 

O principal arquiteto modernista foi Le Corbusier, que através dos seus cinco pontos da nova arquitetura influenciou grande parte da produção arquitetônica até o surgimento do movimento pós-moderno. Le Corbusier fez uso de diagramas para exemplificar seu pensamento arquitetônico. Criou um sistema de medidas, chamado Modulor. Baseava-se nas proporções de indivíduos imaginários, primeiramente um indivíduo de 1,75m de altura e mais tarde um de 1,83m. Foi amplamente usado em seus projetos, principalmente na unidade de habitação de Marseille.
“O modulor é fundamentado em três pontos principais da anatomia humana, o plexo solar, o alto da cabeça e a ponta dos dedos de uma mão erguida. Esses pontos constituem uma média e extrema razão (divisão áurea) que Le Corbusier transferiu para uma série infinita de proporções matemáticas.” 10


 

Figura 7 – Diagrama representando o sistema Modulor, baseado nas porporções de uma pessoa de aproximadamente 1,83m de altura
Fonte – site Fernand Neerman - http://www.neermanfernand.com/images/corbu.jpg


10 HURLBURT, Allen.Layout: o design da página impressa. Editora Nobel, 2002, São Paulo, pg. 81

 
 
Figura 8 – Todas as medidas do projeto eram baseadas nas proporções do corpo humano
Fonte – blog UO Design Communication II  - https://610f13.files.wordpress.com/2013/10/figure13.jpg

 
Figura 9 – Diagramas com modulação baseada nas proporções do sistema Modulor
Fonte – site Fernand Neerman - https://www.pinterest.com/pin/545780048567654411/

Seguindo esse raciocínio funcionalista, surge a Bauhaus. Fundada em 1919 na Alemanha por Walter Gropius, foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura. Assume o papel de referência ao desenvolver conceitos de industrialização e racionalização da produção arquitetônica e do design. Na Bauhaus o aluno passava por varias etapas de aprendizado e aprendia várias técnicas, com o objetivo de produzir o edifício do futuro, que reuniria arquitetura, escultura e pintura. Existia um organograma radial, publicado em 1922 por Gropius, que demonstrava as fases de aprendizado pelo qual o aluno passava. Nos primeiros seis meses o aluno aprendia o básico sobre o estudo da forma e dos materiais, um período conhecido como Vorkurs. A partir do terceiro ano aprendia matérias mais especificas dentro da construção, representação, composição, cores, materiais. E escolheria uma das oficinas para se especializar em algum dos materiais, entre eles madeira, pedra, argila, metais e vidro. No centro estava a ultima fase do curso, relacionada ao projeto do edifício. 11

 

Figura 10 – organograma radial do método de ensino da Bauhaus
Fonte: Blog história da arquitetura, urbanismo e paisagismo - https://histarq.wordpress.com/2013/03/05/aula-3-bauhaus-1913-1933/

11 DROSTE, Magdalena. Bauhaus, 1919-1933. Editora Taschen, 2002, pg. 35.

6.1. A aplicação de diagramas, organogramas e fluxogramas no cotidiano dos projetos de arquitetura

             O organograma no processo projetual de arquitetura difere de alguns dos conceitos gerais, mas tem a mesma finalidade. Ou seja, hierarquizar através de um raciocínio organizacional, os espaços do projeto e agrupá-los de acordo com cada atividade. O raciocínio organizacional pode começar logo após o dimensionamento do programa de necessidades, onde diagramas podem ser usados para representar graficamente a área de cada ambiente, classificando-as por tamanho ou compatibilidade de usos. Geralmente na concepção de um organograma de arquitetura, é considerado que o programa de necessidades já esteja definido e dimensionado. Em certos casos o organograma não tem ligação com a forma final do projeto, assumindo apenas o papel de processo de raciocínio organizacional. Mas muitas vezes o arquiteto pode propor um organograma que chegue perto da forma da implantação do edifício, utilizando métodos comuns ao projeto arquitetônico, como dimensionamento em escala dos diagramas que representam cada elemento do programa de necessidades. Além do projeto, os organogramas também podem ser aplicados em outros processos que envolvem a arquitetura, como na gestão de uma equipe de projeto. Alguns exemplos de organograma (ver figura 11):

“Clássicos: o organograma clássico também é chamado de vertical. È o mais comum tipo de organograma, elaborado com retângulos que representam os órgãos e as linhas que fazem a ligação hierárquica e de comunicação entre eles. 
Em barras: representados por intermédio de longos retângulos a partir de uma base vertical, onde o tamanho do retângulo é diretamente proporcional a importância da autoridade que o representa.
Radial: Objetivo é demonstrar o macrossistema das empresas componentes de um grande grupo empresarial.
Organograma linear de responsabilidade: possui um diferenciador em relação aos demais organogramas, pois a sua preocupação não é apresentar o posicionamento hierárquico, mas sim o inter-relacionamento entre diversas atividades e os responsáveis por cada uma delas.” 12
 
12 MORAES, Giovanni. Elementos do sistema de gestão de SMQRS. Editora GVC, 2010, pg. 111.


 

Figura 11 – Exemplos de organogramas aplicados a gestão da equipe de projeto
Imagem elaborada pelo autor para exemplificar o uso de organogramas na gestão de equipes de projeto. Etapas de projeto baseadas no manual ASBEA: Diretrizes gerais para a intercambialidade de projetos em CAD.
Já o fluxograma na arquitetura é um método usado para hierarquizar e organizar as principais circulações de um projeto, as articulações entre os espaços, levantar os possíveis principais acessos do edifício e as principais vias urbanas que envolvem um lote. Assim como no desenvolvimento do organograma, considera-se que o programa de necessidades já esteja definido e dimensionado.
Na arquitetura, raciocínios organizacionais como organogramas e fluxogramas são geralmente usados em projetos mais complexos, como os de hospitais, onde uma grande quantidade de ambientes estão relacionados de acordo com o uso e o fluxo de pessoas, processos e atividades são fatores fundamentais na concepção.
            “O hospital é um dos programas mais complexos a ser atendido pela composição arquitetônica. É um edifício multifacetado, onde interagem relações diversas de alta tecnologia e refinados processos de atuação profissional (atendimento médico e serviços complementares) com outras de características industriais (lavanderia, serviço de nutrição, transportes, etc.). Do ponto de vista funcional, um edifício deste porte deveria ser, de preferência, construído em um único pavimento térreo. A norma, entretanto, preconiza uma ocupação máxima em torno de 50% do terreno, já previstas futuras ampliações. Por outro lado, as grandes dimensões requeridas levam a verticalização desses edifícios” 13
Classificação dos setores de um hospital:
“Serviços médicos: centro cirúrgico, centro obstétrico, serviços de diagnóstico e terapia, radioterapia e radiologia, laboratórios de patologia clinica, anatomia patológica e fisioterapia.
Áreas de pacientes externos: inclui um leito independente de urgência e outro para ambulatório.
Áreas industriais ou de serviços não médicos: contém serviço de nutrição e dietética, lavanderia, central de suprimentos, instalações mecânicas e de manutenção.
Outros setores são as áreas administrativas, públicas e de conforto de staff.” 14

 13 GÓES, Ronald de. Manual prático de arquitetura hospitalar. São Paulo, Editora Blucher, 2º Edição 2012, pg. 47.
14 Ibidem, pg. 59. 


 

Figura 12 - Exemplo de um organograma/fluxograma do projeto de um ambulatório
Fonte: GÓES, Ronald de. Manual prático de arquitetura hospitalar, 2012, pg. 212.


 

Figura 13 - Exemplo de um organograma/fluxograma geral do projeto de um hospital
Fonte: GÓES, Ronald de. Manual prático de arquitetura hospitalar, 2012, pg. 269.

7. Estudo de caso - Joaquim Guedes

Joaquim Guedes (1932/2008) foi um arquiteto brasileiro, formado pela FAUUSP em 1954. Durante a concepção de seus projetos, buscava métodos mais racionais e rejeitava um mero exibicionismo formal, muitas vezes praticado na arquitetura brasileira. Foi muito influenciado pelos arquitetos europeus Le Corbusier e Alvar Aalto. Foi estagiário do padre Louis-Joseph Lebret, onde começou a estudar e desenvolver seus métodos com diagramas.
“Por acreditar que a beleza só pode ser alcançada com um desenho enxuto e limpo, fruto da solução correta das necessidades, Guedes concentra-se na resolução das questões essenciais, o que torna o excesso, desnecessário e impróprio. Elimina assim, o que é acessório e explora os materiais no limite dos seus atributos e possibilidades, convertendo assim todos os detalhes construtivos em elementos expressivos do espaço e tornando-os parte integrante do caráter da obra, numa relação única e indissociável entre forma e conteúdo.” 15
Joaquim Guedes desenvolveu um particular método de raciocínio diagramático aplicado a arquitetura, que ajuda no processo de concepção e organização dos espaços e circulações em programas complexos. Conhecido como “método do varal” foi criado para auxiliar e aperfeiçoar sua prática arquitetônica e sua metodologia de ensino.
“Trata-se de um levantamento exaustivo preliminar ao projeto, composto pela articulação de ambientes configurados em proporções de 2X3, em diagramas dispostos ao longo de uma linha definida como diretriz de articulação dos espaços em cada subsistema. Joaquim Guedes estaria estabelecendo um meio de ordenar cada elemento de cada subsistema de espaço, controlando seu desenvolvimento de mantendo livres as possibilidades de forma a partir das melhores situações de articulação.” 16
É necessário um estudo minucioso do uso de cada ambiente, para que seja possível hierarquizá-los e relacioná-los por afinidade. Para isso também é necessário que as áreas do programa de necessidades já estejam dimensionadas. O método aplicado não descarta outros estudos iniciais de projeto, como os topográficos e os de conforto ambiental.  Abaixo, uma analise do projeto de uma escola técnica de autoria de Joaquim Guedes, onde foi aplicada uma proposta baseada no seu método do varal.
15 CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes. Cosac e Naify Edições, 2000, pg. 08.
16 BESTETTI, Maria Luisa Trindade. Habitação para idosos. O trabalho do arquiteto, arquitetura e cidade. Tese de doutorado, FAUUSP, 2006, pg. 36.

 
Programa:
1 – oficina
2 – laboratório
3 – oficina 1º série
4 – almoxarifado
5 – sanitário
6 – pátio
7 – salão esportivo
8 – centro cívico
9 – orientação educacional
10 – vestiário masculino
11 – vestiário feminino
12 – enfermaria
13 – cantina
14 – depósito
15 – sala de desenho
16 – sala de aula
17 – sala de preparo
18 – anfiteatro
19 – sala de projeção
20 – diretoria
21 – conselho técnico
22 – cabine
23 – tesouraria
24 – secretaria
25 – portaria
26 – sala de leitura
27 – biblioteca
28 – sala dos professores 











Figura 14 – Projeto daescola técnica da congregação Salesiana, Campinas, SP 1977
Fonte: CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes. Cosac e Naify Edições, 2000, pg. 77.


 
Figura 15 – Projeto dividido por setores, explicando a solução criada para o programa 


 
Figura 16 – Exemplo de uma possível aplicação do Método do varal ao projeto
Análise feita pelo autor baseada na obra de Maria Luisa Trindade Bestetti


A proposta foi baseada no método aplicado no projeto da tese de doutorado Habitação para idosos, de Maria Luisa Trindade Bestetti, orientada pelo próprio Joaquim Guedes. 17
Para explicar a proposta, foi escolhido um projeto de Joaquim Guedes, a escola técnica da congregação Salesiana. Em cima da solução final, foram criados setores que reforçam a solução do programa de necessidades pelo autor do projeto, onde cada ambiente é relacionado por afinida de uso (ver figura15). E através do método, esses ambientes são “pendurados” ao longo de uma linha horizontal, que representa a circulação (ver figura16). O projeto final possui uma circulação não tão linear, onde o arquiteto cria jogos de volumes e espaços de convívio nos corredores e pátios cobertos.  

17 BESTETTI, Maria Luisa Trindade. Habitação para idosos. O trabalho do arquiteto, arquitetura e cidade. Tese de doutorado, FAUUSP, 2006, pg. 38.

8. Conclusões

Conclui-se através deste artigo que diagramas são muito usados para representar idéias graficamente na arquitetura. E o uso de organogramas e fluxogramas auxiliam na organização do programa de necessidades e na concepção de um projeto de arquitetura, através da hierarquização dos espaços e dos fluxos, principalmente em programas mais complexos como o de um hospital. E através do estudo de caso do projeto de Joaquim Guedes conclui-se que o raciocínio organizacional é um importante elemento em sua arquitetura e um processo que pode ser adaptado e personalizado.


9. Referências bibliográficas

AFONSO, Alcilia. A adoção de uma metodologia de ensino para projetos arquitetônicos. Arquiteturarevista, Unisinos, Vol. 9, n. 2, 2013.
CAMBIAGHI, Henrique; AMÁ, Roberto; CASTANHO; Miriam; WESTERMANN, Marcelo. 

Diretrizes gerais para a intercambialidade de projetos em CAD. ASBEA, manual em formato digital, 2002.
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. Editora Perspectiva, São Paulo, 2001. 
BESTETTI, Maria Luisa Trindade. Habitação para idosos. O trabalho do arquiteto, arquitetura e cidade. Tese de doutorado, FAUUSP, 2006. 
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes. Cosac e Naify Edições, 2000. 
DROSTE, Magdalena. Bauhaus, 1919-1933. Editora Taschen, 2002.
FARIAS, Priscila Lena. O conceito de diagrama na semiótica de Charles S. Pierce. Revista Triades, 2010. 
FELDMAN, Sarah. Planejamento e zoneamento: São Paulo, 1947-1972. Editora USP, São Paulo, 2005.
FRACCAROLI, Caetano. Arte, reflexão e ensino. FAUUSP/FAPESP, 2000, pg. 10.
GÓES, Ronald de. Manual prático de arquitetura hospitalar. São Paulo, Editora Blucher, 2º Edição 2012.
HURLBURT, Allen.Layout: o design da página impressa. Editora Nobel, São Paulo, 2002.
MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília, Editora Unb, 2000.
MORAES, Giovanni. Elementos do sistema de gestão de SMQRS. Editora GVC, 2010.
MUNARI, Luiz Américo de Souza; IZAR, Gabriela. Diagrama, arquitetura e autonomia. Revista Pós, v.20, n.33, FAUUSP, 2013.

10. Sites visitados

Fernand Neerman
https://www.pinterest.com/pin/545780048567654411/ - acessado em 10/10/2015 as 14:23.
http://www.neermanfernand.com/images/corbu.jpg - acessado em 10/10/2015 as 11h31.

Gabinete de Curiosidades
http://1.bp.blogspot.com/ugTAbL8HfrM/UvNUtHXCueI/AAAAAAAAUL0/SOc6NJEtigk/s1600/mondrian+02.jpg

História e teoria da arquitetura, urbanismo e paisagismo I
https://histarq.wordpress.com/2013/03/05/aula-3-bauhaus-1913-1933/ - acessado em 22/09/2015 as 21:37.

Tipografos.net
http://tipografos.net/design/modulor.html - acessado em 10/10/2015 as 16:14.

Total Qualidade
http://www.totalqualidade.com.br/2010/07/tipos-de-estrutura-organizacional.html - acessado em 21/09/2015 as 16:56.

Urbanidades
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http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=14&fullsize=1 - acessado em 11/10/2015 as 13:37.
http://urbanidades.arq.br/2008/10/ebenezer-howard-e-a-cidade-jardim/ - acessado em 11/10/2015 as 13:46.

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