Autor: Rafael Rodrigues de Freitas Miranda
Orientadora: Maria Albertina Jorge Carvalho
1. Resumo
O objetivo deste artigo é
demonstrar a relação entre o uso de diagramas com o processo de projeto de
arquitetura e urbanismo. Diagramas são representações gráficas
de uma idéia ou conceito e podem ser aplicados para expressar qualquer forma de
conhecimento.
Organogramas são
representações gráficas compostas por diagramas e na arquitetura são usados
como um processo auxiliar no momento da concepção e organização do programa de
necessidades. A partir da metade do século XIX, com o surgimento do pensamento
funcionalista, os arquitetos passam a dar mais importância ao programa de
necessidades. Diagramas e organogramas ganham força no processo projetual e
conceitual de arquitetura. O raciocínio organizacional é muito usado em programas
mais complexos como hospitais. Como exemplo de sua importância, foi criado um estudo de caso em
cima de um projeto do arquiteto Joaquim Guedes, que usou esse tipo de
raciocínio organizacional inúmeras vezes em seus projetos, chegando a criar seu
próprio método.
Palavras chaves: Arquitetura;
diagrama; organograma; Joaquim Guedes.
2. Abstract
The purpose of this article is to demonstrate the
relationship between the use of diagrams with the process of architectural and
urban design. Diagrams are graphical representations of an idea or concept and
can be applied to express any form of knowledge. Organization charts are
graphical representations consisting of diagrams and they are used in
architecture as an aid process at the moment of conception and organization of
the needs program. From the mid-nineteenth century, due to the rise of
functionalist thought, architects begin to give more importance to the needs
program. Diagrams and organization charts are gaining strength in architectural
design and architecture’s conceptual process. The organizational reasoning is
often used in more complex programs such as hospitals. As an example of
its importance, a case study was created upon a design elaborated by the
architect Joaquim Guedes, who used this type of organizational thinking over
and over again on his projects, creating his own design method.
Keywords: Architecture; diagram;
organogram; Joaquim Guedes.
3. Introdução
O diagrama possibilita, em qualquer
processo de concepção ou produção de informações, representar graficamente
qualquer idéia ou conceito. Esse tipo de raciocínio, conhecido como
diagramático ou organizacional, pode ser aplicado em qualquer área do
conhecimento e sempre foi usado na historia da arte e arquitetura. Além dos
diagramas, organogramas e fluxogramas
também podem ser aplicados no momento da concepção do projeto arquitetônico e
urbanístico, principalmente os com programa de necessidades mais complexo. Assim
é possível criar uma hierarquia dos espaços, circulações e acessos, uma maneira
de simplificar o processo projetual.
É
antiga a relação entre arquitetura e o uso de diagramas, como por exemplo, o
homem vitruviano, representação criada por Leonardo da Vinci baseada na obra de
Vitrúvio. Por isso os diagramas selecionados neste trabalho estão relacionados
a partir de um período (a partir da metade do século XIX) onde a arquitetura
passa a ter fortes tendências funcionalistas, um momento onde
os arquitetos se desprenderam de conceitos do passado e passam a dar uma maior
atenção ao programa de necessidades do edifício e a racionalização dos
processos.
4. Metodologia
Para
realização deste trabalho, foram desenvolvidos levantamentos por meio virtual e
físico, a artigos, teses e dissertações relacionadas aos temas gestão de
projetos, projeto de arquitetura, teoria da arquitetura, semiótica, historia da
cidade e urbanismo. Foram apresentados os conceitos gerais de diagrama
(baseados na obra de Charles
Sanders Peirce),
organograma e fluxograma, exemplos emblemáticos
na arquitetura, aplicação no cotidiano de projeto e um estudo de caso. Este
estudo de caso demonstra a relação pratica entre o raciocínio organizacional e o programa de
necessidades e foi desenvolvido em cima de um projeto de Joaquim Guedes, onde
foi aplicada uma proposta do que seria o método do varal, baseada na tese de
doutorado Habitação para idosos, de Maria Luisa
Trindade Bestetti.
5. Conceito de Diagrama
De modo geral, diagramas são
representações gráficas de uma idéia ou conceito e
podem ser aplicados para expressar qualquer forma de conhecimento. De acordo
com Charles Sanders Peirce, um dos
principais estudiosos da semiótica, um diagrama pode ser definido como “uma
associação entre elementos expressa por meio de relações em um ambiente visual”
¹, ou como uma
“imagem visual, seja ela composta por linhas, como uma figura geométrica, ou
uma seqüência de signos, como uma fórmula algébrica, ou de natureza mista, como
um grafo”. ²
Peirce classificava um diagrama de três maneiras:
como sinônimo ou ícone, como um hipo-ícone ou como um processo de raciocínio
(raciocínio diagramático).
Sua definição para um ícone era “aquele
que exibe alguma similaridade ou analogia com seu objeto, em contraste com os
índices, que apenas forçam a atenção sobre o objeto, sem descrevê-lo, e com os
símbolos, que se referem ao objeto através de associações habituais de
idéias”.³ Um ícone puro é apenas uma possibilidade lógica e não algo existente.
Primeiramente Peirce parece diferenciar o conceito de diagrama do
conceito de ícone puro, mas ao longo de sua obra é possível notar que esses
conceitos se sobrepõem.
Sobre os hipo-icones, considerava
“signos icônicos, ícones instanciados, participando de relações sínicas
existentes, devido a algum tipo de semelhança que possuem com seus objetos.
Neste contexto, diagramas podem ser definidos como hipo-ícones cuja semelhança
com seu objeto baseia-se, antes de tudo, em uma semelhança estrutural”. 4
Já o raciocínio diagramático (um pensamento
descrito de forma visual, baseado na elaboração de diagramas) era para Peirce o
único tipo realmente fértil de raciocínio. Também considerava o pensamento
diagramático como icônico ou esquemático e poderia ser usado em diversos
processos, não se restringindo apenas ao campo matemático e da lógica.
¹ FARIAS,
Priscila Lena. O conceito de diagrama na semiótica de Charles S. Pierce, 2010.
Revista Triades, pg. 01.
² Ibidem,
pg. 03.
³ Ibidem,
pg. 02.
4 Ibidem, pg.
05.
5.1. Conceito de organograma
Um
organograma ou estrutura
organizacional é uma representação gráfica composta por diagramas e é usado
para representar a hierarquia de cada cargo e a distribuição de cada atividade
dentro de uma empresa. Uma das primeiras pessoas a utilizar um organograma foi
Daniel C. McCallum, um administrador de ferrovias que viveu no século XIX. Sua
intenção ao desenvolver esse método era mostrar como estavam dispostas as
unidades funcionais de sua empresa, a hierarquia e as relações de comunicação. 5
5.2. Conceito de fluxograma
Um fluxograma é um diagrama que
surgiu com a finalidade de representar processos ou fluxos de materiais e
operações em uma empresa. “O fluxograma é uma poderosa ferramenta de
padronização e muitas vezes é feito através de gráficos que ilustram de forma descomplicada
a transição de informações entre os elementos que o compõem. Podemos entendê-lo
como a documentação dos passos necessários para a execução de um processo
qualquer.” 6
O fluxograma deve ser simples e
objetivo, deve-se usar utilizar poucos símbolos, como setas para indicar o
fluxo das operações. Um fluxograma pode ser representado junto com o organograma,
onde um processo completa o outro.
5
MORAES, Giovanni. Elementos do sistema de gestão de SMQRS.
Editora GVC, 2010, pg. 111.
6 MORAES, Giovanni.
Elementos do sistema de gestão de SMQRS. Editora GVC, 2010, pg. 172.
6. Exemplos de diagramas e organogramas emblemáticos na arquitetura e urbanismo
Alguns dos diagramas mais famosos relacionados à
arquitetura e urbanismo são os da cidade jardim, conceito criado por Ebenezer
Howard (1850 – 1928). As cidades industrializadas do século XIX passam a
apresentar péssimas condições de vida, devido à insalubridade e a massiva
migração da população do campo, que encontrava na cidade maiores oportunidades
de trabalho. Buscando melhores condições de vida para essa população, Howard
propõe um equilíbrio entre cidade e campo em seu livro Garden-cities
of To-morrow, publicado em 1902.
“Howard propõe um novo tipo de organização física
econômica e social como alternativa a cidade industrial vitoriana, adequando
uma visão de vida comunitária do século XIX às necessidades colocadas pela era
industrial. Nesse sentido as cidades jardim têm como princípios básicos: a
descentralização urbana, o limite no tamanho das cidades adequado ao equilíbrio
na organização agrícola industrial, a definição de uma cinta verde para limitar
a expansão da cidade e servir de área de produção agrícola e lazer e a
propriedade cooperativa do solo.” 7
A figura numero 2 demonstra um organograma radial
que distribui as funções dentro da cidade jardim. O organograma não representa
a forma final do projeto, mas sim sua distribuição hierárquica de dentro para
fora. O parque ficaria na parte central da cidade e estaria cercado por
edifícios residenciais, jardins, bulevares, avenidas e uma linha ferroviária. A
cidade estaria cercada por inúmeras áreas verdes.
A figura número 3 demonstra um esquema mais
detalhado, com outros usos. Na parte central em volta do parque, a sede da
prefeitura, um museu, um teatro, uma sala para concertos, uma biblioteca, e um
hospital. Ao longo das avenidas, escolas e diversas fabricas.
A figura 4 demonstra que uma cidade jardim não
deveria ficar isolada e sim fazer parte de um conjunto de cidades interligadas.
7 FELDMAN, Sarah. Planejamento e zoneamento: São Paulo,
1947-1972. Editora USP, São Paulo, 2005, pg. 124.
Figura 2 – Diagrama radial apresentando o esquema da cidade jardim
Fonte: site Urbanidades -
http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=12&fullsize=1
Figura
3 - Diagrama nº 3 - Seção da Cidade-Jardim
Fonte: site Urbanidades - http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=14&fullsize=1
Figura
4 - Diagrama demonstrando a distância entre cada distrito - Fonte:
site Urbanidades http://urbanidades.arq.br/imagens/2008/EbenezerHowardeaCidadeJardim_E359/eh_sistema_cidades_01.png
A partir da segunda revolução industrial, durante a segunda metade do século XIX, surgem novas tecnologias e materiais aplicados a construção, como o ferro, o aço, o concreto armado e a produção de vidro em larga escala. Além disso, surgem novas necessidades arquitetônicas, como a construção de moradias para operários e edifícios mais altos e industrialização de elementos construtivos.
“Nas duas décadas entre 1830 e 1850,
nasce a urbanística moderna. A convivência dos homens na cidade industrial
coloca novos problemas de organização: os antigos instrumentos de intervenção
revelam-se inadequados e são elaborados novos, adaptados as condições
modificadas.” 8
Logo os arquitetos se viram obrigados a
repensar a maneira de projetar edifícios, o que aos poucos levou ao abandono do
academicismo (processo de aprendizagem arquitetônico proposto pela École de
Beaux-Arts de Paris, adotado em várias partes do mundo e aplicado por mais de
um século e meio) e a abolição do uso da ornamentação, que além de encarecer a
construção, representava uma perda de produtividade.
8 BENEVOLO, Leonardo.
História da arquitetura moderna. Editora Perspectiva, 2001, São Paulo, pg. 71.
A ornamentação estava diretamente
ligada a um historicismo e academicismo que já não faziam mais sentido no
momento. Os arquitetos que seguiam essa forma acadêmica de projetar pouco
levavam em conta o programa de necessidades, partiam de formas pré-definidas,
independente do uso e do lote onde o edifício seria implantado.
Aos poucos vai tomando forma a corrente
funcionalista dentro da arquitetura, que além de reduzir inúmeros elementos
desnecessários do projeto, destacava a importância do programa de necessidades,
de acordo com a função do edifício.
Figura 5 – Tabela
comparando o raciocínio acadêmico e o funcionalista na arquitetura
Fonte:
MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília, Editora UnB,
2000, pg. 26.
Neste panorama surge a figura do
arquiteto americano Louis Sullivan, afirmando que a “forma segue a
função”, projetando inúmeros edifícios para a cidade de Chicago, apesar de ainda
fazer uso da ornamentação. Adolf Loos foi outro arquiteto importante, atuando a
partir do final do século XIX e combatendo diretamente a ornamentação e os
estilos históricos, chegando a criar um manifesto intitulado “Ornamento é
crime”. O pensamento racional e a ruptura com a cultura clássica alcançam o seu
auge com o surgimento do movimento modernista e suas vanguardas no começo do
século XX, com destaque para o neoplasticismo, que surgiu na Holanda em 1917. A
estética do movimento desenvolvida por artistas como Piet Mondrian e Theo van Doesburg
era tão
elementar, que remetia a formas puras que lembravam diagramas (ver figura 6).
“Os
integrantes desse movimento buscavam uma purificação dos meios plásticos,
adotando as cores primárias (a representação da cor nela mesma), formas
neutras, como o retângulo. Por sua condição de equilíbrio estável e a linha
reta, acreditavam não evocar sentimentos ou idéias individuais, esses seriam
então meios plásticos universais. A utilização destes destacaria as relações
entre as formas, criando, racionalmente formas e cores abstratas. Assim,
chegariam à plástica exata das relações puras e ao essencial de qualquer emoção
plástica estética.” 9
Figura 6 – capa da revista De Stijl por Theo van Doesburg e arte criada por Mondrian. Fonte: blog Gabinete de curiosidades - http://1.bp.blogspot.com/ugTAbL8HfrM/UvNUtHXCueI/AAAAAAAAUL0/SOc6NJEtigk/s1600/mondrian+02.jpg
9
FRACCAROLI, Caetano. Arte, reflexão e ensino. FAUUSP/FAPESP, 2000, pg. 10.
O principal arquiteto modernista foi Le
Corbusier, que através dos seus cinco pontos da nova arquitetura influenciou
grande parte da produção arquitetônica até o surgimento do movimento
pós-moderno. Le Corbusier fez uso de diagramas para exemplificar seu pensamento
arquitetônico. Criou um sistema de medidas, chamado Modulor. Baseava-se nas
proporções de indivíduos imaginários, primeiramente um indivíduo de 1,75m de
altura e mais tarde um de 1,83m. Foi amplamente usado em seus projetos,
principalmente na unidade de habitação de Marseille.
“O modulor é fundamentado em três
pontos principais da anatomia humana, o plexo solar, o alto da cabeça e a ponta
dos dedos de uma mão erguida. Esses pontos constituem uma média e extrema razão
(divisão áurea) que Le Corbusier transferiu para uma série infinita de
proporções matemáticas.” 10
Figura
7 – Diagrama representando o sistema Modulor, baseado nas porporções de uma pessoa
de aproximadamente 1,83m de altura
Fonte
– site Fernand Neerman - http://www.neermanfernand.com/images/corbu.jpg
Figura 8 – Todas as
medidas do projeto eram baseadas nas proporções do corpo humano
Figura 9 –
Diagramas com modulação baseada nas proporções do sistema Modulor
Fonte – site Fernand Neerman -
https://www.pinterest.com/pin/545780048567654411/
Seguindo
esse raciocínio funcionalista, surge a Bauhaus. Fundada em 1919 na Alemanha por
Walter Gropius,
foi uma escola de design, artes plásticas e
arquitetura. Assume o papel de referência ao desenvolver conceitos de
industrialização e racionalização da produção arquitetônica e do design. Na
Bauhaus o aluno passava por varias etapas de aprendizado e aprendia várias
técnicas, com o objetivo de produzir o edifício do futuro, que reuniria
arquitetura, escultura e pintura. Existia um organograma radial, publicado em
1922 por Gropius, que demonstrava as fases de aprendizado pelo qual o aluno
passava. Nos primeiros seis meses o
aluno aprendia o básico sobre o estudo da forma e dos materiais, um período
conhecido como Vorkurs. A partir do terceiro ano aprendia matérias mais
especificas dentro da construção, representação, composição, cores, materiais.
E escolheria uma das oficinas para se especializar em algum dos materiais,
entre eles madeira, pedra, argila, metais e vidro. No centro estava a ultima
fase do curso, relacionada ao projeto do edifício. 11
Figura 10 –
organograma radial do método de ensino da Bauhaus
Fonte:
Blog história da arquitetura, urbanismo e paisagismo - https://histarq.wordpress.com/2013/03/05/aula-3-bauhaus-1913-1933/
11 DROSTE, Magdalena. Bauhaus, 1919-1933. Editora Taschen, 2002, pg. 35.
6.1. A aplicação de diagramas, organogramas e fluxogramas no cotidiano dos projetos de arquitetura
O organograma no processo projetual de arquitetura difere de alguns dos conceitos gerais, mas tem a mesma finalidade. Ou seja, hierarquizar através de um raciocínio organizacional, os espaços do projeto e agrupá-los de acordo com cada atividade. O raciocínio organizacional pode começar logo após o dimensionamento do programa de necessidades, onde diagramas podem ser usados para representar graficamente a área de cada ambiente, classificando-as por tamanho ou compatibilidade de usos. Geralmente na concepção de um organograma de arquitetura, é considerado que o programa de necessidades já esteja definido e dimensionado. Em certos casos o organograma não tem ligação com a forma final do projeto, assumindo apenas o papel de processo de raciocínio organizacional. Mas muitas vezes o arquiteto pode propor um organograma que chegue perto da forma da implantação do edifício, utilizando métodos comuns ao projeto arquitetônico, como dimensionamento em escala dos diagramas que representam cada elemento do programa de necessidades. Além do projeto, os organogramas também podem ser aplicados em outros processos que envolvem a arquitetura, como na gestão de uma equipe de projeto. Alguns exemplos de organograma (ver figura 11):
“Clássicos: o organograma
clássico também é chamado de vertical. È o mais comum tipo de organograma,
elaborado com retângulos que representam os órgãos e as linhas que fazem a
ligação hierárquica e de comunicação entre eles.
Em barras: representados por
intermédio de longos retângulos a partir de uma base vertical, onde o tamanho
do retângulo é diretamente proporcional a importância da autoridade que o
representa.
Radial: Objetivo é demonstrar o
macrossistema das empresas componentes de um grande grupo empresarial.
Organograma linear de
responsabilidade: possui um diferenciador em relação aos demais organogramas,
pois a sua preocupação não é apresentar o posicionamento hierárquico, mas sim o
inter-relacionamento entre diversas atividades e os responsáveis por cada uma
delas.” 12
Figura 11 – Exemplos de
organogramas aplicados a gestão da equipe de projeto
Imagem
elaborada pelo autor para exemplificar o uso de organogramas na gestão de
equipes de projeto. Etapas de projeto baseadas no manual ASBEA: Diretrizes
gerais para a intercambialidade de projetos em CAD.
Já
o fluxograma na arquitetura é um método usado para hierarquizar e organizar as
principais circulações de um projeto, as articulações entre os espaços, levantar
os possíveis principais acessos do edifício e as principais vias urbanas que
envolvem um lote. Assim como no desenvolvimento do organograma, considera-se
que o programa de necessidades já esteja definido e dimensionado.
Na
arquitetura, raciocínios organizacionais como organogramas e fluxogramas são
geralmente usados em projetos mais complexos, como os de hospitais, onde uma
grande quantidade de ambientes estão relacionados de acordo com o uso e o fluxo
de pessoas, processos e atividades são fatores fundamentais na concepção.
“O hospital é
um dos programas mais complexos a ser atendido pela composição arquitetônica. É
um edifício multifacetado, onde interagem relações diversas de alta tecnologia
e refinados processos de atuação profissional (atendimento médico e serviços
complementares) com outras de características industriais (lavanderia, serviço
de nutrição, transportes, etc.). Do ponto de vista funcional, um edifício deste
porte deveria ser, de preferência, construído em um único pavimento térreo. A
norma, entretanto, preconiza uma ocupação máxima em torno de 50% do terreno, já
previstas futuras ampliações. Por outro lado, as grandes dimensões requeridas
levam a verticalização desses edifícios” 13
Classificação
dos setores de um hospital:
“Serviços
médicos: centro cirúrgico, centro obstétrico, serviços de diagnóstico e
terapia, radioterapia e radiologia, laboratórios de patologia clinica, anatomia
patológica e fisioterapia.
Áreas
de pacientes externos: inclui um leito independente de urgência e outro para
ambulatório.
Áreas
industriais ou de serviços não médicos: contém serviço de nutrição e dietética,
lavanderia, central de suprimentos, instalações mecânicas e de manutenção.
Outros
setores são as áreas administrativas, públicas e de conforto de staff.” 14
13 GÓES,
Ronald de. Manual prático de arquitetura hospitalar. São Paulo, Editora
Blucher, 2º Edição 2012, pg. 47.
Figura 12 - Exemplo de um organograma/fluxograma do projeto de um ambulatório
Fonte:
GÓES, Ronald de. Manual prático de
arquitetura hospitalar, 2012, pg. 212.
Figura 13 - Exemplo de um organograma/fluxograma geral do projeto de um hospital
Fonte:
GÓES, Ronald de. Manual prático de
arquitetura hospitalar, 2012, pg. 269.
7. Estudo de caso - Joaquim Guedes
Joaquim
Guedes (1932/2008) foi um arquiteto brasileiro, formado pela FAUUSP em 1954. Durante
a concepção de seus projetos, buscava métodos mais racionais e rejeitava um
mero exibicionismo formal, muitas vezes praticado na arquitetura brasileira. Foi
muito influenciado pelos arquitetos europeus Le Corbusier e Alvar Aalto. Foi
estagiário do padre Louis-Joseph
Lebret, onde começou a estudar e desenvolver seus métodos com diagramas.
“Por
acreditar que a beleza só pode ser alcançada com um desenho enxuto e limpo,
fruto da solução correta das necessidades, Guedes concentra-se na resolução das
questões essenciais, o que torna o excesso, desnecessário e impróprio. Elimina
assim, o que é acessório e explora os materiais no limite dos seus atributos e
possibilidades, convertendo assim todos os detalhes construtivos em elementos
expressivos do espaço e tornando-os parte integrante do caráter da obra, numa
relação única e indissociável entre forma e conteúdo.” 15
Joaquim
Guedes desenvolveu um particular método de raciocínio diagramático aplicado a
arquitetura, que ajuda no processo de concepção e organização dos espaços e
circulações em programas complexos. Conhecido como “método do varal” foi criado
para auxiliar e aperfeiçoar sua prática arquitetônica e sua metodologia de
ensino.
“Trata-se
de um levantamento exaustivo preliminar ao projeto, composto pela articulação
de ambientes configurados em proporções de 2X3, em diagramas dispostos ao longo
de uma linha definida como diretriz de articulação dos espaços em cada
subsistema. Joaquim Guedes estaria estabelecendo um meio de ordenar cada
elemento de cada subsistema de espaço, controlando seu desenvolvimento de
mantendo livres as possibilidades de forma a partir das melhores situações de
articulação.” 16
É
necessário um estudo minucioso do uso de cada ambiente, para que seja possível
hierarquizá-los e relacioná-los por afinidade. Para isso também é necessário
que as áreas do programa de necessidades já estejam dimensionadas. O método
aplicado não descarta outros estudos iniciais de projeto, como os topográficos
e os de conforto ambiental. Abaixo, uma
analise do projeto de uma escola técnica
de autoria de Joaquim Guedes, onde foi aplicada uma proposta baseada no seu
método do varal.
15
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes. Cosac e Naify Edições,
2000, pg. 08.
16
BESTETTI, Maria Luisa Trindade. Habitação para idosos. O
trabalho do arquiteto, arquitetura e cidade. Tese de doutorado, FAUUSP, 2006,
pg. 36.
Programa:
1
– oficina
2
– laboratório
3
– oficina 1º série
4
– almoxarifado
5
– sanitário
6
– pátio
7
– salão esportivo
8
– centro cívico
9
– orientação educacional
10
– vestiário masculino
11
– vestiário feminino
12
– enfermaria
13
– cantina
14
– depósito
15
– sala de desenho
16
– sala de aula
17
– sala de preparo
18
– anfiteatro
19
– sala de projeção
20
– diretoria
21
– conselho técnico
22
– cabine
23
– tesouraria
24
– secretaria
25
– portaria
26
– sala de leitura
27
– biblioteca
28
– sala dos professores
Figura 14 – Projeto daescola técnica da congregação Salesiana, Campinas, SP 1977
Fonte: CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim
Guedes. Cosac e Naify Edições, 2000, pg. 77.
Figura
16 – Exemplo de uma possível aplicação do Método do varal ao projeto
Análise feita pelo autor baseada na obra de Maria Luisa
Trindade Bestetti
A proposta foi baseada no método aplicado no projeto da tese de doutorado Habitação para idosos, de Maria Luisa Trindade Bestetti, orientada pelo próprio Joaquim Guedes. 17
Para explicar a proposta, foi
escolhido um projeto de Joaquim Guedes, a escola técnica
da congregação Salesiana. Em cima da solução final, foram criados setores que
reforçam a solução do programa de necessidades pelo autor do projeto, onde cada
ambiente é relacionado por afinida de uso (ver figura15). E através do método,
esses ambientes são “pendurados” ao longo de uma linha horizontal, que
representa a circulação (ver figura16). O projeto final possui uma circulação
não tão linear, onde o arquiteto cria jogos de volumes e espaços de convívio
nos corredores e pátios cobertos.
17
BESTETTI, Maria Luisa Trindade. Habitação para idosos. O
trabalho do arquiteto, arquitetura e cidade. Tese de doutorado, FAUUSP, 2006,
pg. 38.
8. Conclusões
Conclui-se através deste artigo
que diagramas são muito usados para representar idéias graficamente na
arquitetura. E o uso de organogramas e fluxogramas auxiliam na organização do
programa de necessidades e na concepção de um projeto de arquitetura, através
da hierarquização dos espaços e dos fluxos, principalmente em programas mais
complexos como o de um hospital. E através do estudo de caso do projeto de
Joaquim Guedes conclui-se que o raciocínio organizacional é um importante
elemento em sua arquitetura e um processo que pode ser adaptado e
personalizado.
9.
Referências bibliográficas
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metodologia de ensino para projetos arquitetônicos. Arquiteturarevista,
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10. Sites visitados
Fernand Neerman
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História e teoria da
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Tipografos.net
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- acessado em 21/09/2015 as 16:56.
Urbanidades
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- acessado em 11/10/2015 as 13:33.
http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens/displayimage.php?pid=14&fullsize=1
- acessado
em 11/10/2015 as 13:37.
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- acessado
em 11/10/2015 as 13:46.
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